Coluna Moda

Novos significados para o rosa do milênio

Comprei uma calça e uma regata rosa. Não consigo parar de pensar em pintar meu quarto de rosa antigo. E quero também uns pratos rosa. Curioso, para quem até bem pouco tempo nem gostava dessa cor. Inicialmente, pensei que minha nova preferência se devia à Cecilia, minha filha de 2 anos, que me apresentou o rosa-bebê. Mas não.

Cecília, de 2 anosFoto: Arquivo pessoal

Há horas paira uma febre de tons de rosa claro nas minhas redes sociais em roupas, cabelos, celulares, paredes e objetos de decoração. A cartela varia entre o rosa suave do algodão doce, o salmão pálido, o pêssego, o rosa chá, o coral, o chamado rosa "gold" (do iPhone) e até um pink envelhecido.

Recentemente, descobri que a cor vem sendo chamada de "rosa millennial" em função da Geração Y, pouco preocupada com rótulos. E assim, faz parte de um movimento mais amplo. Em 2016, a Pantone, empresa-chave na pulverização da cor do momento em escala mundial, definiu o Rose Quartz e o Serenity (tom de azul claro) como as cores do ano. A escolha de ambas foi uma reação aos fatos violentos do ano anterior e buscou sinalizar o equilíbrio compatível com a aceitação da ambiguidade dos gêneros e da diversidade sexual.

Foi nesse contexto que os tons rosa começaram a ser adotados por meninos e meninas sem maiores categorizações, flexibilizando o conceito de masculinidade ou feminilidade e, sobretudo, fazendo ecoar uma espécie de apropriação política do rosa. A cor, historicamente sinônimo do feminino, tornou-se, segundo especialistas, uma bandeira da moda "genderless" (sem gênero). Isso tem sido fundamental para despertar a atenção do mercado, com marcas mais voltadas a linhas de roupas neutras, por exemplo.

No ciclo das tendências, quando é estipulada a cor do ano, não é novidade que ela vá virar moda e ganhar as ruas, mas no caso do rosa, as explicações econômicas não bastam para justificar por que ainda seguimos influenciados por esse minimalismo cromático tão singular que inundou o imaginário coletivo.

A moda é para nos fazer felizes

Ora, o rosa se mostrou uma proposta visual oportuna para reagir a um mundo de polarizações, preconceitos e radicalismos, pois é suave e neutro: desperta compaixão. É versátil, fácil de combinar e ainda está presente nas boas memórias da infância - no meu caso, no algodão doce e no banheiro da primeira casa onde eu morei. Emplacou também por ser sugestivo e denotativo em um único snapshot. O rosa embarcou na cultura digital das aparências, já acostumada às imagens idealizadas e às fotos com filtros, que materializam uma estética sedutora e acolhedora.

Tons de rosa também estão presentes no cabeloFoto:

A onda dos rosas soft pode, inclusive, estar indicando algo latente no ser humano: o aconchego do colo da mãe. Mas ainda que isso pareça perpetuar a associação com um universo feminino mais romantizado, ela também tende a carregar uma dimensão de girl-power. E é nesse momento que noto uma evidente atualização do rosa enquanto signo estético, que se revela como um indicador da busca e da conquista do espaço que nos é legítimo.

Se minha filha despertou um mundo cor de rosa na minha vida, ao mesmo tempo, despertou também minha atenção para seus diversos matizes: da força individual, da resistência coletiva, da alteridade, do lúdico e do sensível. Um belo buquê de rosas. 

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